quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Coito

Põe tua mão sobre o meu dorso
Faz passear tua língua molhada
até sentir o meu gosto
de pele branca e amarga.

Teu dedo morno
acalentando meu lábio frio
Gozando
de mais um gozo
do meu rio.

Teus olhos soltos
vagando pelo quarto
escuro
Mil e um muros
que a vereda espanta
Numa voz que canta
para a minha alma sorrir.

E num instante único
nosso sonho é mártir
da realidade farta
do tempo que passa
do instante que esvai
e é peça
fundamental
do descaso causado
pelo desatino matinal
do eco da tua voz
que inexiste.

Mas o teu beijo doce
e os pelos do corpo
e o gosto que perdura
e o rosto
solto em meu pensamento
Fazem-me desatento
ao fim do derradeiro alento
que antecede ao gozo.

O suor que escorre -
fruto duma noite enorme
que encurta a vida em três partes
[ - o antes
- o durante
- o depois]
É desfecho.
É suspiro.
Quase morte.

A tua voz é pura sorte.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Dois/Dos Mundos

Quero ocultar do lábio
o triste vulto de solidão.
A voz que inebria enriquece enaltece
é fervura terna ao meu soluçar

O tenso instante em que me busco
me acho me perco destrato
A existência macabra e solitude
Me lembra do tempo criança
em que dois pés corriam o mundo
e dois mundos corriam de pé

Que mundo subalterno e sensato!
Traz consigo contradição e o diacho
Que mundo perdido traído calado?
Triste elo entre meus dedos.

Que saudade dos tempos longínquos!
Que me arrancaram a paz e o espírito
Que me plantaram loucura e vastidão no pranto...

Que triste a veemência de meus lábios!
calados são triste reflexão
Crise
Que beira, enaltecida, a existência.