domingo, 31 de março de 2013

Relato póstumo

O vazio que deixas preenche, 
inebria!
O sorriso falido que entregas,
arrepia!
E nada fora o vão inteiro
que tomou conta
por deixar-se só - -
Apenas!
Jogado ao léu,
às enfermidades e afins.

Sendo assim fui
riso fácil.
Atirada às tentações
grotescas dum disperso
coração sem sentido,
fugidio.
Que perdia-se, apenas.

É o vazio, ainda!
Esta imensa tormenta sem fim;
que desgasta meu corpo,
devasta,
Se atira a mim sem pudor
ou censura
E acaba por atiçar-me 
a malevolência,
Tomar-se parte das alegrias,
arrancando-as!
Deixando-me assim, só!
tendo nas mãos o próprio
atestado de óbito
e nos olhos, puro sangue.
(as linhas que se seguem fazem jus
a minha dor)
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O riso teu me é lágrima!
Teu Adeus, tiro certeiro:
me entope as veias, 
seca o coração,
decepa a Juventude!
Enquanto meu corpo,
por Amor às Condições,
a Si Próprio e Mim Mesma,
é esquartejado e consagrado
em terreno desconhecido.

Por tentação a partida
tu me partes.
(as mãos tuas estão ainda
sujas do sangue que escorre
lentamente 
por meus olhos).

sexta-feira, 8 de março de 2013

Esdrúxula questão, desgaste

Há algo falho, ininterrupto, habitando estranhamente cada uma de minhas entranhas. E tudo o que se esvai junto ao suor diário é o excesso de cansaço fora ao peito, que amontoa num corpo cálido, cheio de vermes a percorrerem cavidades indispensáveis. Os desejos insanos, selvagens, vão completamente de encontro ao significado biológico da função de cada célula. Milhares de células! E os vermes formigam, fornicam por entre eles mesmos e dentro de mim, nada sai após isso... Nada entra, também. Há uma parede imensa tal qual Muralha da China que impede a passagem, o retorno, e também todo e qualquer avanço. Os vermes passeiam. Sou apenas uma molécula imensa de água! (um conjunto delas)... Uns sais minerais aqui, umas proteínas ali e nada seria se nada consumisse. A dose diária do temor alheio. Dose diária de sacas e mais sacas de nada além do promíscuo processo evolutivo único, humano. 
Os vermes desgastam o Hipocamo, Deus da sabedoria. A memória falha, o reflexo ao espelho é uma interrogação em diversas cores e desfoque máximo... E nada disso altera coisa alguma. Todas as ações fazem-se cumprir naturalmente. Os pés andam em linha reta e até mesmo afastam-se dos carros em alta velocidade. A mente responde bem às questões matemáticas. Os dias terminam do mesmo modo que começam. O Sol nasce, põe-se; a Lua aparece e diz adeus, mas continua. Falar das estrelas arranca-me um pouco o pesar, no entanto, nem sempre há o que dizer. Pois as letras misturam-se! E cada novo erro é uma descoberta magnífica que pode ou não alterar o rumo da humanidade. Novamente, dia após dia, as respostas chegam e se vão quase que seguindo um roteiro escrito por "sabe-se lá quem" ou "onde" ou "por que". Talvez alguns saibam, ou julgam saber. Mesmo assim, respostas óbvias continuam a ser reescritas e aplaudidas e mexem com o sentido, a sensibilidade de qualquer um. SENTIMENTALISMO EXACERBADO, ESDRÚXULO, MAL ESCRITO.
O sentido sempre esteve na ênfase, o segredo. A verdade geral é o modo com o qual se fala.
Impaciência, a mesma que habita milhares de entranhas mais, consome muito mais a mim que os vermes, até mesmo. Arranca tudo! Destrói... (Já houve algo?). O problema são as dúvidas que vêm... Existo? Quem garante a mim que sou ponto físico, além de uma bomba abstrata autodestrutiva? 

quinta-feira, 7 de março de 2013

Interpretar

Quer-se amar como num pulso fulminante a pulsar porque não se sabe outra coisa fazer.
Como umas palavras soltas, eu as como e finalmente deleito-me, satisfeita do estômago e das dores do corroer; mas, enfim, na verdade, nunca havia sido problema esse o real. O corroer tem outra interpretação, que não denota o sentido real e real real nada é, além de notas coloridas que compram pão e café. (y otras cositas mas)

Tragédia romântica

"Amor", dizia
no quente do gozo
que até a noite
sentia.

"Amor", respondia
num sussurro 
que até até Deus queria
ouvir.

E a Lua caía
abandonava os dez céus...
E o Paraíso ria
das desventuras de ser Humano
Desenfreado
Amordaçado
pelo forte grito que é
o Amor.

domingo, 3 de março de 2013

Injúria Psicótica

Inútil dentre os psicopatas
Que por trás da porta
choravam sob amarras.
Forte grito duma morta.
E me dirás uma ou duas vezes
que tudo o que vi fora mentira!
Que o que ouvi era surdez!
e o absoluto caos engrandecia
o breu
E não era nada.
E ousará dizer-me
que o canto meu tampouco desdiz
as palavras à toa
Dum parceiro antigo
dum final irrecíproco
dum temer quase nada.
Ousa gritar-me agora
num pranto que não cessa jamais
que a vida que vivi
foi quase nada
E a que morri continua
acesa.
E me dirás!
ao anoitecer que a lua traz
que o amargo sabor dos lábios
eles sim, jamais
esconderão-se detrás a porta.
E a porta fecha-se!
numa estrondosa batida
que me arranca os interiores
E, aí sim, ensurdece os tímpanos!
Mas, não mais amor
sendo próximo
incolor
insípido e fajuto
calar-te-á ao
se findarem versos.
O sebo
a janta perdida
o todo esquecido progresso
acaba quando tu ousas
mais um regresso,
Mais uma Infâmia.