quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Busca insensata

O sentido exato
da exatidão contemporânea
A que se dá?

O velho riso frouxo
ao triste simplório gosto
do vindo perdido
Rompido deletério
esquecido
pelo tempo,
Tempo Rei
DA VIDA.

O sentido exato
a que se dá?
de que se vem?

Uma busca vã
de algo perdido
que se perdeu
ou não se sabe
exatamente
se aconteceu.

Uma busca!
Está-se a buscar
O que?
Não se sabe.

... O pretérito imperfeito
das causas perdidas
Obras desfalecidas
de um futuro que não vem!

A que se dá?
o frouxo do riso
o triste grito
do que
NUNCA
vem?

domingo, 8 de setembro de 2013

Sintoma I

Rasgar-se-ão as cartas
e todos os outros papéis
que guardam em si
a caligrafia torta
cujas palavras
mataram
e causaram dor,
Aliciaram o ego
transbordaram afeto
e gritaram o grito
incompreensivo
Agora proibido
que traz à mente
o teu nome em grego.

Misturar-se-á
a cor da água
ao vão
das mesmas palavras
já murchas
e dos toques
que perduram
e insistem
em maltratar.
O incolor da água
ao inóspito de teus rios
lacrimais
ao vão de teus pensamentos tolos
e das falas
injustificáveis...
Inacabáveis.

[Sobre o meu terno seio
contou fascínios tantos!
O leito guarda ainda o cheiro
do teu corpo amarelo,
de teus pretos pelos.]

Fecham-se os olhos
num piscar lento
e há vontade de não mais abri-los
e de dormir
e de sonhar...
e de não mais precisar
ter-te
aqui...
ao lado de meu corpo frio
fazendo de meu gozo
rio.


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Protesto

Eis o vão!
Meu peito enrudecido e aberto
Grita a ternura em falta.

O vão!
Eis, então,
A aventura perplexa
O devaneio, em festa,
Faz sorrir a palestra.
(amontoado inútil,
multidão calada
mal colocada
mal revestida
de palavras
VÃS)

Eis o sentido
Ou a sua falta.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Fascínio

A mocidade dos seus lábios
O calor intenso de seus maços
esquecidos;
tragados;
Jazidos no infinito de seus olhos
claros
Como o sol de toda manhã.
Seu corpo conduz-me
à indecência
Retorce o meu riso
em pura inocência
peculiar a quem abdica
da dor.
São seus dois olhos!
Astros.
Claros rios cálidos
de cuja opacidade
tem capacidade
de tomar toda
e qualquer
realidade
que cerque
ou meça
a minha lisonja.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Coito

Põe tua mão sobre o meu dorso
Faz passear tua língua molhada
até sentir o meu gosto
de pele branca e amarga.

Teu dedo morno
acalentando meu lábio frio
Gozando
de mais um gozo
do meu rio.

Teus olhos soltos
vagando pelo quarto
escuro
Mil e um muros
que a vereda espanta
Numa voz que canta
para a minha alma sorrir.

E num instante único
nosso sonho é mártir
da realidade farta
do tempo que passa
do instante que esvai
e é peça
fundamental
do descaso causado
pelo desatino matinal
do eco da tua voz
que inexiste.

Mas o teu beijo doce
e os pelos do corpo
e o gosto que perdura
e o rosto
solto em meu pensamento
Fazem-me desatento
ao fim do derradeiro alento
que antecede ao gozo.

O suor que escorre -
fruto duma noite enorme
que encurta a vida em três partes
[ - o antes
- o durante
- o depois]
É desfecho.
É suspiro.
Quase morte.

A tua voz é pura sorte.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Dois/Dos Mundos

Quero ocultar do lábio
o triste vulto de solidão.
A voz que inebria enriquece enaltece
é fervura terna ao meu soluçar

O tenso instante em que me busco
me acho me perco destrato
A existência macabra e solitude
Me lembra do tempo criança
em que dois pés corriam o mundo
e dois mundos corriam de pé

Que mundo subalterno e sensato!
Traz consigo contradição e o diacho
Que mundo perdido traído calado?
Triste elo entre meus dedos.

Que saudade dos tempos longínquos!
Que me arrancaram a paz e o espírito
Que me plantaram loucura e vastidão no pranto...

Que triste a veemência de meus lábios!
calados são triste reflexão
Crise
Que beira, enaltecida, a existência.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Viagem

E se nos encontrarmos em recaída
e sob braços alados, embarcarmos em dor
- dor esta que, sem rumor algum, recobre o peito escasso
e torna-se refém dum pudor abstrato
que retém o cruel significado
do meu e do teu calor?
E quanto aos dedos que deslisam
- hirto mastro
que cobrira
de líquido o meu corpo…?
Sob o lençol, profundo sopro
do raso oxigênio absorto.
E se teus olhos me pedirem
volta
e teu calor me prender,
escolta! os males em teu aguardo
e o amargo gosto do fel
que atiça a língua malévola
passeia livre
por entre os santos campos
remotos.
E se
meu beijo te acender a chama
e meu seio ascender a cama…
Se creio uma vez que me ama!
despenteio de uma só vez
a dama.
Aclama! que o grito já exposto
é drama.
E se
tu fores, ainda assim,
me chama? 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

No brando silêncio de teus lábios,
é todo branco o som que
por eles, ensoa.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

ONDE ESTÁ O AMOR

dos versos limpos
e dos escaldados, 
dos tristes cânticos 
d'outrora,
Que não me toca
nem de longe
e nem co's dedos
inseridos 
no fulgor
de minha solidão?

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Censura ao deleite

Como posso esquecer o hino
da bandeira desconhecida
que brada amor como fixação? 
Como posso me perder perante
o cálice
de sangue imaculado
banhado à dádiva que é
o fio da vileza pura
que percorre as mãos
que enchem o cálice?

E meus seios
de cuja delicadeza ímpar
se permitem beijar
e infectar lábios outros
com o doce gosto
do intocável,
por que 
será?

Ainda assim, poderia eu
perder-me diante
ao fruto inigualável 
duma paixão 
que inexiste?
Percorro, eu mesma
meu corpo branco
e nem um 
liquido 
escorre 
para acusar possível 
volúpia

Só talvez, deva ser eu
o vazio
intenso
que não embrandece 
nem brilha
Cujo dom
do sentir
me não é presente.

A bandeira canta
e o meu riso afaga
o leve sabor
do que não fica.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Infortúnios, inglórias e incertezas

TALVEZ EU ROUBE
MEUS PRANTOS PROFUNDOS
DO SENTIDO ABSOLUTO DE CULPA

TALVEZ EU DISTRAIA O MORIBUNDO
QUE AGUÇA MEUS SENTIDOS, ABSOLUTOS
TAMBÉM

TALVEZ EU CAIA
POR ENTRE AS ESTREITAS CALÇADAS
E ME PERCA POR BAIXO
DOS CARROS
E ASTROS
SACROS

E ME PERCA
NA INFINITUDE
DO INFORTÚNIO HUMANO
E ME DISTRAIA
COM A MORTE
OUTRA VEZ ABSOLUTA
DO MEU EXISTIR

TALVEZ EU ROUBE
AS VESTES
PRECES
OS PRANTOS
CANTOS
E COM ELES NADA FAÇA

TALVEZ EU ROUBE
E MATE
E DESTRATE
QUE PARA ISSO NÃO SE
PRECISA
FUNDAMENTO.

TALVEZ
MAS SÓ TALVEZ
EU SEJA.
PORQUE O SER
JÁ É FUNDAMENTO.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Se existe o Paraíso, talvez eu prefira realmente não ir

Os monstros da percepção me acolhem, ninam-me com uma obscura canção, cuja melodia foi roubada do escuro labirinto das desilusões. Somos frascos transbordando veneno e percorremos ruas, poluindo calçadas e almas, disseminando esperanças com o sutil grito de dor. E fingimos, a cada instante, que conseguimos suportar as máscaras e o peso nos ombros, mas a coluna é frágil. Vivemos mancos, multiplicando a gordura do corpo flácido, e sucintamente congeminando o desdém. Então nada sobra, além do monstruoso arrepio dos tecidos que encobrem a carne humana; o feitio de encontrar um outro corpo-chave para rasgar esta mesma carne que se esconde sob os tecidos e dilacerar as vísceras. O que não se pode evitar, ao ouvir passos mancos a pestanejarem falsas relações impróprias entre um caminho e outro, é o dom inefável da múltipla percepção. O poder de aflorar a relação consigo e para com o outro... Andamos todos frágeis, nos sustentando sob mentiras e/ou esperanças, prosseguindo devido a lembranças de muitas faces e não sabemos sequer o momento de retirar a máscara de ferro que nos pesa e prende como não sei o quê, que impede o grito tenebroso de ecoar pelo universo "vazio".
Os Monstros do Enxergar me entendem. A tal máscara de ferro, inquebrável, cuja ela mesma é a causa de lágrimas inacabáveis, prantos inconsoláveis, não se faz satisfeita ao me sugar o último sopro de liberdade. Tal máscara já me fez amar, mas Que é o amor quando não se tem por verdadeiro? Que são todas as chances de vitória e os troféus acumulados, quando não se pode reconhecer a si mesmo?
Somos vazios ambulantes entupidos de medo, e é este o pior veneno. O que facilmente contamina. A cada passo, enviamos uma alma para o céu, esta, ingênua, parte sem saber reconhecer a si ou aos outros. Esta pobre alma liberta aos céus, toma o Paraíso sem saber o sentido em ser mais um na multidão que o habita entre preces e máscaras.
Será, o nosso medo, o que impede ou o que nos facilita a passagem ao Paraíso?

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Súplica absoluta rodeada de questionamentos embriagados

Quantas vidas,
mortes, súplicas
terei então de suportar?

Quantas voltas?,
bem claro é, que sufoca
o existencialismo barato
de um marco sádico
a me corroer.

Quantas "des"
e ilusões
me há a vida
de colocar?

a prensar vitórias
e distribuir
almas ilusórias
ao vão imperfeito
do verbo "amar"?

Corroer-me-á
a existência própria
e a voz,
ao citar, descaradamente,
poemas chulos
vingativos nulos
dum amor 
pouco solene.

desdizer as sensações
revelar dois corações sem face
a avistar membros hábeis 
e colorir risos frágeis
por não haver o que hoje há.

Semelhança alguma? 
Ternura foi-se?
As desilusões
conjugações errôneas
de tantos verbos clichês...
E não há um
porquê específico. 

Há hoje o que antes não foi
E, por não ter sido, 
pode, enfim, ser
Mas, que diabos?!
Amor descontratado
fugaz sentimento ressaltado
Que se exalta a revelar-se inútil

Que poderá, este amor
no fim,
Perdido no vão insano
Que são as palavras 
e suas denotações,
Dizer que é? Buscar aqui?

Quantas vidas, ó maldita Lei de Tempo,
espaço, crença,

PERDIÇÃO,
Terei ainda de enfrentar?
E ter corroída a alma 
(em quantas vidas),
em seu sentido e calma, 
por não me mais ponderar?

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Dar-se de cara consigo

Eis que vivo em infinita melancolia. O sol arrancou-me o brilho ténue. A capacidade de enxergar belezas simples arrancou-me a malevolência necessária num ser humano. Que poderia eu fazer após tornar-me, em toda, bondade? Os raios solares iluminavam as verdes árvores e minha face desprendia-se em sorrisos. Alcancei, após isso, duas vezes, o orgasmo vívido por encontrar ao meio da rua, há dois passos e meio, uma face que já foi minha.
O brilho dos olhos a contar-me estórias, a voracidade com a qual sorria, desprendida de circunstâncias mórbidas e necessárias, faziam-me enxergar a mim, algum tempo atrás. E o olhar meu preencheu o ambiente, fiz que não vi, mas observei, cautelosa, a rítmica respiração familiar. Seria o Eu que se perdeu? O Eu que se perdeu entre as incertezas duma existência que não se decide entre vã ou indispensável? 
Dei de cara com o meu espírito, que julgava antes enterrado e, ao contrário do que pensava, ele sobrevoava, vivíssimo, a hierarquia solitária dos que continuam vivos. 
Não há face que esbanje sentimentalismo sem usar de uma gota, que seja, de melancolia. É o que move os perceptíveis. A dor, angústia de ter ao lado de si todas as sensações do mundo e poder desfrutar de apenas uma por vez. A loucura! O temor de não haver tempo para todas as coisas requeridas… para abusar dos dons que vos foram agraciados. A tristeza de olhar-se ao espelho e não se encontrar, pois o espelho faz-se incapaz de traduzir a grandiosidade do Ser. 
Onde se perdeu a minha eternidade? E todas as juras incríveis sobre não esconder-me do Eu que sempre sobreviveu folgado e revelou-se por todas as épocas em que se pode respirar sozinha, onde foram parar? Onde está o autoritarismo com o qual reivindiquei às minhas dores por achar que era maior que as mesmas e busquei, incansavelmente, a nota mais doce de um acorde cujo som é infinito? Ingênua, não conhecia o significado de “infinito”. Mesmo assim, abracei a causa da verdade humana e fui ao ápice do descobrir ao outro, por não mais me poder encontrar… Abdiquei a mim. Fui vítima da mais cruel das ilusões, ao pensar que encontrando o sentido alheio da vida, já não precisaria encontrar o meu, pois nada me parecia significar a minha existência mínima, ao meio de um Todo que move as montanhas da percepção e tem o poder de mexer tanto com tudo e sem por quê. Ao fim de tudo, percorri vidas inteiras (construídas por segundos e mais segundos de ignorância minha), sem saber que é em mim que se encontra a juventude que tanto busquei nos outros.
Percebi ao dar de cara comigo, com aqueles olhos de quem busca respostas e não cansa de exercer a vida, o tempo, que já não sou o Eu que se perde ao espelho… E quis buscar de volta a maldade humana que sempre viveu em mim como vive em qualquer um. O veneno da raça, que não é de todo mal. E a autoridade e o sentimentalismo exacerbado e a ironia, o sarcasmo que percorreram minhas veias por tantos quase que incontáveis instantes… Quis de volta a minha essência, que eu já nem julgava necessária, que eu nem lembrava que era o que me fazia.
Meus passos me buscaram, meu olhar me percorreu o corpo e a face. Dei de cara comigo, que estava desaparecida há vidas. Quis afogar-me em mim mesma e descobrir a verdade sobre o que me faz existir.
Quis viver de buscar ideais e me perder entre as sensações e dúvidas que perneiam o meu pensar.
Meu poço de melancolia secou-se, o significado de “infinito” foi abrangido e, finalmente, dei-me conta de que não há nada cujo fim seja imprescindível… Fui ser o Eu que estava solto, que havia sido expulso de mim… Eis que agora a vitalidade do “ser” é o que se faz durar. Resta-me gozar das imperfeições próprias.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Desconjunto

A minha letra e o teu nome
a voracidade entre um espirro e outro,
dentre um verso
e uma coloquial fala que
se coloca como intrusa entre as falas.
O meu sorriso e o teu passo
o dia inteiro de controvérsias
um mundo inteiro de desavenças
todo o universo de desencontros…
e nada se encontra no lugar em que deixei.
Um sarcasmo abençoando o outro;
Aquilo que já se foi esquecido
mas que mora morno no peito,
que jaz na tumba enegrecida
cujo epitáfio não está escrito.
E onde esgotou-se o amor?
Em qual ponto o pecado nada mais significou?
Quereria contar a ti os devaneios
mais lúcidos
dos sonhos incólumes
das dunas azuis
pássaros multicolores,
antes de nascer o feto
da nossa morte conjunta
Este que era dono de nome
família - morte
e lábio macio.
Pecado renasce? 

terça-feira, 7 de maio de 2013

Labirinto de meus sonhos inócuos

Te vi virar a esquina, passar pela porta da casa de número treze com o olhar desconexo de sempre e o sorriso que quase sempre não existe ou é forçado. Vi-te caminhar por mais dez ruas, cruzar caminhos que eu nunca imaginei que pudessem ser passados tantas repetidas vezes e mesmo assim não se cansou. Foi efêmero o sentimento que me ocorreu quando uma moto quase te atropelou e você sequer desdenhou do moço de capacete cor de rosa... Vi que a tua camisa vermelha tinha cheiro de chuva e contrastava muitíssimo bem com o céu cinzento que acontece uma vez a cada década ou mais. Você finalmente parou, sentou num banco qualquer ao meio de um dos caminhos que seguiu sem rumo e permaneceu calado. Porém, os teus olhos pensantes me contaram, até quando fechados, as mil e uma desventuras passadas nesse caminho ou nesses caminhos em que nada, de fato, aconteceu ou nada que valesse à pena lembrar por mais de dez minutos (o tempo que durava a jornada entre uma estrela oculta e outra, vista do meu ângulo). Os protótipos ingênuos de todos os andarilhos e pessoas apressadas pro trabalho ou para a família ou sabe-se lá para onde ou quem, te faziam suspirar e isso também eu via, com meus olhos de engolir dinossauros e destilar utopias. Os passos apertados, alheios, dispersos, você ouvia e sentia-se mal por caminhar descompassado por entre a multidão em que se acomodavam apenas algumas pessoas. Foi o desinteresse com o qual me aproximei das tuas flores sem pétalas que te fez recuar. Mas você nem sentiu. Num amargo sangrento, em que meus olhos choravam saudades reclusas, você também não notou que eu estava te gritando enquanto observava calada o teu trocar de ideias, expôr de opiniões. 
O que houve após essa troca não mútua de inutilidades melancólicas? Nada. O dia acabou-se cinzento e a noite não derramou uma lágrima de orvalho, pois não tinha motivo para deixar transparecer qualquer tipo de afinco ou tristeza, porque, no fim das contas, não havia tristeza. Apenas um apelo iludido por algo que já aconteceu errado. Já começou errado. Nada houve após os passos insonoros; nem uma Guerra entre dois mundos, sequer Estados. A burguesia não caiu. A coca-cola não parou de ser consumida em quase 99% do planeta. Mas deveria. Porque dentro de mim houve terremoto. A temperatura subiu aos 90º C e não houve reação alguma do organismo. A tua biologia, teus cálculos e teorias metódicas não adiantaram ou reforçaram ideia alguma de salvação de meu ser.
Um único pedido oculto. Mas que, acima de tudo, não era pedido... O que eu queria era esse Nada mesmo, mas que viesse ele completo. Repleto do teu Nada que poderia significar uma imensidade de coisas.
Você estava em baixo de uma árvore, sob um céu cinzento e choveu por quase a semana inteira, após dois anos sofridos de seca. Vestia uma camisa vermelha e estava sozinho olhando para onde eu não posso imaginar. Eu já pensei em escrever sobre esse momento mais de um milhão de vezes, inclusive enquanto eu te observava, feito louca psicopata, de sensações incontroláveis, me passavam poesias das mais lindas e fortes. Mas nem tudo se pode descrever com igual exuberância. Nem tudo se traduz ao fundamento português. Há momentos que se passam apenas para serem lembrados numa hora qualquer; que não haja fotografia ou escritura. Para ficar colada numa parte pequena da existência.
Há pessoas, acima desses momentos e lembranças, que existem para serem observadas. Essas, intocáveis, guardam em si quase todos os mistérios da vida, e não há graça se forem eles todos descobertos de uma única vez.

domingo, 21 de abril de 2013

Algo sobre solidão e morte

Você feriu minha carne, roeu minhas unhas e sequer sentiu-se tocado quando soou em teus ouvidos a fúnebre música de uma nota só.
Arrancou-me as entranhas, comeu minhas vísceras e pintou os lábios com o meu sangue vermelho amargo. Você foi festejo impróprio mesmo tendo nos olhos acúmulo lacrimal. Desfez-se de uma vez só e nunca revelou o motivo central.

Você se perdeu em seu próprio sonho; caiu num abismo por um erro, num buraco cavado por si mesmo sem fundamento algum e suicidou sem querer, abdicando a mim.
Descobriu após dois dias a carne cujo odor enfeitiçava qualquer ser vivo há um quilômetro e testemunhou a beleza do corpo em ato inicial de decomposição. O punhal, sujo do sangue que te fez batom ficou guardado por entre o peito, no oco que deixou ao arrancar o órgão pulsante e alimentar-se, engolindo-o de uma só vez, sem dó, piedade ou algo parecido.
Teus olhos queimavam enquanto os dentes sorriam a trabalhar pesado, mastigando a carne viscosa e suculenta.
Acariciou-me os cabelos,
encostou tua face maldita na minha sem vida
e nada mais pude sentir.
Tua respiração ofegava, a minha inexistia e, mesmo assim, não havia tragédia pior que a tua.
Nem meu corpo morto,
nem meu coração arrancado ou minhas veias rasgadas
nem o ato quase interminável da minha morte em pequenas doses
causou dor tão profunda quanto a tua! Teu coração quer rasgar-se, mas ele próprio não há. O pulmão não consegue responder aos cigarros constantemente empurrados com toda rudez e a tua crise de asma a cada trinta minutos faz com que sintas o gosto da morte que não chega nem com a mais forte das preces.
Encontra-se sentado numa poltrona preta e tão suja quanto o resto desse teu habitat entupido de calamidades e de uma dor que não é sentida. Você não consegue sentir a própria dor. Teus ouvidos estão surdos e não sente fome nem sede nem vontade de nada. Não se arrepende, não está feliz e finge que lida com indiferença com as lembranças do dia em que me atacou por ter te tocado a face e olhado nos teus olhos que estão hoje cegos por um pudor inexplicável.
Estou em alguma parte te observando e de repente estou em todas as partes e você não sabe para onde e nem por que olhar e nem eu entendo a minha função essencial na tua inglória, em teu poço de tormentas e dores agudas que insistes em negar. Não há negrume em nenhuma das partes e posso sentir e até ver, em diferentes cores, o nível da tua dor que aumenta a cada momento.
Agora você levanta e abre a geladeira, mas a cerveja acabou e a vodca foi derramada na hora ápice do ódio... Os cigarros já não fazem efeito, mas tua asma continua a atacar de trinta em trinta minutos;
então você vai até o quarto e encara a sua cama como se houvesse alguém ali – ou talvez o faz pela certeza de não ter ninguém em parte alguma dali.
Está sozinho em uma casa azul de dez cômodos e em um deles encontra-se um corpo, o meu corpo, morto, a se decompor e, além do oxigênio, existe uma grande dose de psicodelia no ar.
Você levanta, mas logo volta para a poltrona de frente a TV, porque todos os outros lugares parecem ser grandes e ocupados demais pelas outras partes da tua imensa solidão. Não consegue suportar a ideia de ligar a TV e dar de cara com todos aqueles rostos sorrindo e falando e fingindo... Muito menos o rádio e suas canções de amor que tocam sempre nesta hora, às 01:13 da manhã. Pode ouvir o barulho da chuva e cada pingo é-lhe um tiro na cara, que não causa lesão.
Você volta ao quarto de paredes manchadas exatamente sete dias após o assassinato e encontra-se mais morto que eu. Então arranca o punhal do meu corpo pútrido e enfia-o em seu próprio peito. Vê meu rosto espantado e dolorido de relance.
Sente o punhal entrar por entre o peito e perfurar vagarosamente o coração.
Foi a primeira vez que chorou.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Apelo Sertanejo

Ó Veneza de meu Sertão!
Dois rios te cortam ao meio
Quando qualquer desolação,
você sempre extenso peito.

Desde as pedras retiradas
Do Ouro, de ferro, fogo
são feitas armas malombadas
Pois as trilhas que em ti seguem
Fazem perderem-se homens
e os próprios desarmarem-se.  

Tuas Serras,
vastos campos,
Subsolo, todo encanto
Agora, oco, chora o Rio
em cada um
um só pranto.

Seco seca e acomoda-se
em vão, num lodo que não
há tamanho
e nem as mais salgadas lágrimas
salvam, se não há ganho.

Se a Deus foi entregue o fim
A terra vermelha,
o rio Mirim
O pedaço do campo
do mato
do bambo
nada mais é,
foi-se o encanto!

Enquanto as Serras derretem
em fogo
Chora eu, chora tu
num compasso lacrimal
incapaz de combater
qualquer mau.

E, dizem-se bons,
os empregadores!
Por cima asfalto
por baixo dores.

Vidas morrem num só jogo
e joga-se lá, joga-se aqui...

Adeus, Serras!
Adeus, Tesouro!
Partes tão fácil de mim!

E do meu campo,
em pobre coro,
Morre o gado!
Morre o pasto!
Morro eu que nem sofria...
Morre tu num só desgosto
Ao ver morrerem a cada dia.

Abaixo, Sol!
Dai-nos trégua!
Seca o poço
seca há légua
Só não seca,
triste, as lágrimas.
Ai, que dor que não cessa!

Ó Veneza de meu Sertão!
O que farei quando aqui
não mais houver chão?
O buraco já te engole
E tardo eu, numa prece
que nem colore
parte alguma de teu maciço.

Sou próprio mendigo
a clamar centavo
d'água,
do tesouro meu,
mais uma década!

Morre o festejo,
morro eu,
a cada fresta.
Derreto também
junto ao desdém
de teus filhos
descuidados.

Ó Veneza! Ó Terra do Ouro!
De tu já não sobras
um único tesouro?

domingo, 14 de abril de 2013

Um pedido, duas mortes

Tu me vens de olhos tristes
Enrolando, perecendo o peito;
Com a boca a sangrar, insistes
Que eu morra em teu próprio leito.

E meus olhos, fascínios de espanto puro
Reconhecendo a dor em teu tom
Se formam, num segundo, barreira, muro.
Terás tu, maldito dom?

Capaz de
Atiçar-me a masoquia,
Fazer-me puro sofredor...
Está certo, também eu
quereria?

[Tornando-me dor, aceito
Do fundo de todo o peito
Morrer da tua dor, enterrar-me
em vosso leito;
Nas tuas injúrias, em teu calor.]

terça-feira, 2 de abril de 2013

A Terra Louca e o seu fim

Estou há dois passos do fim do mundo e tudo o que há são controvérsias. A luz do sol apagou-se e o brilho das estrelas sumiu; além dos astros, tem muita coisa errada. A força da gravidade passou de 9,789 m/s² para 2,5 m/s² e as coisas praticamente flutuam. Onde foram parar as leis de Newton??! Onde se escondeu a verdade que havia no experimento de Galileu Galilei?! “Tudo o que sobe, desce”, e nada mais faz sentido.
A velocidade da luz é, atualmente, facilmente atravessada, é verdade, mas isso não é nada extraordinário comparado à velocidade de crescimento de tudo o que provém da Terra, desse chão fértil e agora amaldiçoado. Não há motivo para se falar no motivo exato porque o mesmo não existe. Ainda assim, as coisas continuam a acontecer numa velocidade incomparável, inacreditável! E tudo é a falta de teoria e o exagero que existe em cada ser habitante deste planeta miserável.
Foi tudo mentira. Os bilhões de anos decorridos, o oxigênio, gás carbônico, o astro da Terra, as bactérias e até mesmo nós, seres heterotróficos, somos uma mentira sem fim. Quase como uma ilusão óptica, os desprazeres da Terra se esconderam e, como vadias ruins, esperaram o momento certo para atacar! E tudo o que antes havia, tornou-se mentira, a mais pura e covarde mentira. O sentido de Vida é puramente conotativo, pois, na verdade, não há o que denotar... Somos fictícios e não nos demos conta.
Estou há dois passos do fim do mundo e tudo o que ouço é o barulho dos prédios a desabarem. Se me falassem em injustiça, pensaria imediatamente que estavam a se referir à enganação constante que foi/é a “Vida”, mas, alguns instantes após, é certo que me gritaria Jean-Paul Sartre ao ouvido, numa tentativa louca de me ensurdecer e me trazer de volta à sanidade: “O que você fez daquilo que te fizeram?”
Mais dois passos e é o fim. Um passo... Vou mergulhar na devastação.

domingo, 31 de março de 2013

Relato póstumo

O vazio que deixas preenche, 
inebria!
O sorriso falido que entregas,
arrepia!
E nada fora o vão inteiro
que tomou conta
por deixar-se só - -
Apenas!
Jogado ao léu,
às enfermidades e afins.

Sendo assim fui
riso fácil.
Atirada às tentações
grotescas dum disperso
coração sem sentido,
fugidio.
Que perdia-se, apenas.

É o vazio, ainda!
Esta imensa tormenta sem fim;
que desgasta meu corpo,
devasta,
Se atira a mim sem pudor
ou censura
E acaba por atiçar-me 
a malevolência,
Tomar-se parte das alegrias,
arrancando-as!
Deixando-me assim, só!
tendo nas mãos o próprio
atestado de óbito
e nos olhos, puro sangue.
(as linhas que se seguem fazem jus
a minha dor)
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O riso teu me é lágrima!
Teu Adeus, tiro certeiro:
me entope as veias, 
seca o coração,
decepa a Juventude!
Enquanto meu corpo,
por Amor às Condições,
a Si Próprio e Mim Mesma,
é esquartejado e consagrado
em terreno desconhecido.

Por tentação a partida
tu me partes.
(as mãos tuas estão ainda
sujas do sangue que escorre
lentamente 
por meus olhos).

sexta-feira, 8 de março de 2013

Esdrúxula questão, desgaste

Há algo falho, ininterrupto, habitando estranhamente cada uma de minhas entranhas. E tudo o que se esvai junto ao suor diário é o excesso de cansaço fora ao peito, que amontoa num corpo cálido, cheio de vermes a percorrerem cavidades indispensáveis. Os desejos insanos, selvagens, vão completamente de encontro ao significado biológico da função de cada célula. Milhares de células! E os vermes formigam, fornicam por entre eles mesmos e dentro de mim, nada sai após isso... Nada entra, também. Há uma parede imensa tal qual Muralha da China que impede a passagem, o retorno, e também todo e qualquer avanço. Os vermes passeiam. Sou apenas uma molécula imensa de água! (um conjunto delas)... Uns sais minerais aqui, umas proteínas ali e nada seria se nada consumisse. A dose diária do temor alheio. Dose diária de sacas e mais sacas de nada além do promíscuo processo evolutivo único, humano. 
Os vermes desgastam o Hipocamo, Deus da sabedoria. A memória falha, o reflexo ao espelho é uma interrogação em diversas cores e desfoque máximo... E nada disso altera coisa alguma. Todas as ações fazem-se cumprir naturalmente. Os pés andam em linha reta e até mesmo afastam-se dos carros em alta velocidade. A mente responde bem às questões matemáticas. Os dias terminam do mesmo modo que começam. O Sol nasce, põe-se; a Lua aparece e diz adeus, mas continua. Falar das estrelas arranca-me um pouco o pesar, no entanto, nem sempre há o que dizer. Pois as letras misturam-se! E cada novo erro é uma descoberta magnífica que pode ou não alterar o rumo da humanidade. Novamente, dia após dia, as respostas chegam e se vão quase que seguindo um roteiro escrito por "sabe-se lá quem" ou "onde" ou "por que". Talvez alguns saibam, ou julgam saber. Mesmo assim, respostas óbvias continuam a ser reescritas e aplaudidas e mexem com o sentido, a sensibilidade de qualquer um. SENTIMENTALISMO EXACERBADO, ESDRÚXULO, MAL ESCRITO.
O sentido sempre esteve na ênfase, o segredo. A verdade geral é o modo com o qual se fala.
Impaciência, a mesma que habita milhares de entranhas mais, consome muito mais a mim que os vermes, até mesmo. Arranca tudo! Destrói... (Já houve algo?). O problema são as dúvidas que vêm... Existo? Quem garante a mim que sou ponto físico, além de uma bomba abstrata autodestrutiva? 

quinta-feira, 7 de março de 2013

Interpretar

Quer-se amar como num pulso fulminante a pulsar porque não se sabe outra coisa fazer.
Como umas palavras soltas, eu as como e finalmente deleito-me, satisfeita do estômago e das dores do corroer; mas, enfim, na verdade, nunca havia sido problema esse o real. O corroer tem outra interpretação, que não denota o sentido real e real real nada é, além de notas coloridas que compram pão e café. (y otras cositas mas)

Tragédia romântica

"Amor", dizia
no quente do gozo
que até a noite
sentia.

"Amor", respondia
num sussurro 
que até até Deus queria
ouvir.

E a Lua caía
abandonava os dez céus...
E o Paraíso ria
das desventuras de ser Humano
Desenfreado
Amordaçado
pelo forte grito que é
o Amor.

domingo, 3 de março de 2013

Injúria Psicótica

Inútil dentre os psicopatas
Que por trás da porta
choravam sob amarras.
Forte grito duma morta.
E me dirás uma ou duas vezes
que tudo o que vi fora mentira!
Que o que ouvi era surdez!
e o absoluto caos engrandecia
o breu
E não era nada.
E ousará dizer-me
que o canto meu tampouco desdiz
as palavras à toa
Dum parceiro antigo
dum final irrecíproco
dum temer quase nada.
Ousa gritar-me agora
num pranto que não cessa jamais
que a vida que vivi
foi quase nada
E a que morri continua
acesa.
E me dirás!
ao anoitecer que a lua traz
que o amargo sabor dos lábios
eles sim, jamais
esconderão-se detrás a porta.
E a porta fecha-se!
numa estrondosa batida
que me arranca os interiores
E, aí sim, ensurdece os tímpanos!
Mas, não mais amor
sendo próximo
incolor
insípido e fajuto
calar-te-á ao
se findarem versos.
O sebo
a janta perdida
o todo esquecido progresso
acaba quando tu ousas
mais um regresso,
Mais uma Infâmia.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Adeus

Estupendo! Florescente!
O arco-íris, multicolor
resplandece às alternativas
Ora alegre, ora dor.

Então o murmúrio
Estupendo! Florescente!
Resplandece junto a dor.

Eis, questão de sentido
única alternativa.
cheiro de morte
cheio de dor.

Sentindo às vésperas,
ao calor,
a imensidão a chegar
a chamar
a explicar
ou desintoxicar
todo o amargor.

Voraz sentindo
ou falta em demasia
pois, então, tu querias
roubar-me o calor.
O amor! O amor!

A paz o levou
longe
donde não sei
sequer supor,
mas irei...

VINDE A MIM
Ó PAI!
CHEIO DAS GRAÇAS
E DO AMOR
RETORNAIS AO TEU FILHO
TODO O ESPLENDOR
ARRANCA-LHE A DOR!
TORNA-O ÚNICO
E COMPLETO
AMOR.

ou te esqueces da Terra
das formigas a andarem em bando
da comida a perder-se.
do pranto.
te esqueces
te vais a longe
te mandas a milhas.
ADEUS
A DEUS

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Tráfego

As sirenes
Os pássaros
Um som.

O suor
acentuado
na pele humana
capta o rumor
artificial.

As ruas, cheias
e também vazias
gritam socorro
clamam ajuda.
Acudam!!

Os cães
E mães
e  bebês ao colo
choram um só pranto
em coro.

O fémur corroído
O peito doído
O princípio corrompido
E mata-se
E olha-se
Desdenha-se.

(Sapado apertado
Mente vazia
música a romper
os tímpanos)

Novamente as sirenes
e os pássaros
um único som.
Só se quer atravessar a rua.