segunda-feira, 15 de abril de 2013

Apelo Sertanejo

Ó Veneza de meu Sertão!
Dois rios te cortam ao meio
Quando qualquer desolação,
você sempre extenso peito.

Desde as pedras retiradas
Do Ouro, de ferro, fogo
são feitas armas malombadas
Pois as trilhas que em ti seguem
Fazem perderem-se homens
e os próprios desarmarem-se.  

Tuas Serras,
vastos campos,
Subsolo, todo encanto
Agora, oco, chora o Rio
em cada um
um só pranto.

Seco seca e acomoda-se
em vão, num lodo que não
há tamanho
e nem as mais salgadas lágrimas
salvam, se não há ganho.

Se a Deus foi entregue o fim
A terra vermelha,
o rio Mirim
O pedaço do campo
do mato
do bambo
nada mais é,
foi-se o encanto!

Enquanto as Serras derretem
em fogo
Chora eu, chora tu
num compasso lacrimal
incapaz de combater
qualquer mau.

E, dizem-se bons,
os empregadores!
Por cima asfalto
por baixo dores.

Vidas morrem num só jogo
e joga-se lá, joga-se aqui...

Adeus, Serras!
Adeus, Tesouro!
Partes tão fácil de mim!

E do meu campo,
em pobre coro,
Morre o gado!
Morre o pasto!
Morro eu que nem sofria...
Morre tu num só desgosto
Ao ver morrerem a cada dia.

Abaixo, Sol!
Dai-nos trégua!
Seca o poço
seca há légua
Só não seca,
triste, as lágrimas.
Ai, que dor que não cessa!

Ó Veneza de meu Sertão!
O que farei quando aqui
não mais houver chão?
O buraco já te engole
E tardo eu, numa prece
que nem colore
parte alguma de teu maciço.

Sou próprio mendigo
a clamar centavo
d'água,
do tesouro meu,
mais uma década!

Morre o festejo,
morro eu,
a cada fresta.
Derreto também
junto ao desdém
de teus filhos
descuidados.

Ó Veneza! Ó Terra do Ouro!
De tu já não sobras
um único tesouro?

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