O que houve após essa troca não mútua de inutilidades melancólicas? Nada. O dia acabou-se cinzento e a noite não derramou uma lágrima de orvalho, pois não tinha motivo para deixar transparecer qualquer tipo de afinco ou tristeza, porque, no fim das contas, não havia tristeza. Apenas um apelo iludido por algo que já aconteceu errado. Já começou errado. Nada houve após os passos insonoros; nem uma Guerra entre dois mundos, sequer Estados. A burguesia não caiu. A coca-cola não parou de ser consumida em quase 99% do planeta. Mas deveria. Porque dentro de mim houve terremoto. A temperatura subiu aos 90º C e não houve reação alguma do organismo. A tua biologia, teus cálculos e teorias metódicas não adiantaram ou reforçaram ideia alguma de salvação de meu ser.
Um único pedido oculto. Mas que, acima de tudo, não era pedido... O que eu queria era esse Nada mesmo, mas que viesse ele completo. Repleto do teu Nada que poderia significar uma imensidade de coisas.
Você estava em baixo de uma árvore, sob um céu cinzento e choveu por quase a semana inteira, após dois anos sofridos de seca. Vestia uma camisa vermelha e estava sozinho olhando para onde eu não posso imaginar. Eu já pensei em escrever sobre esse momento mais de um milhão de vezes, inclusive enquanto eu te observava, feito louca psicopata, de sensações incontroláveis, me passavam poesias das mais lindas e fortes. Mas nem tudo se pode descrever com igual exuberância. Nem tudo se traduz ao fundamento português. Há momentos que se passam apenas para serem lembrados numa hora qualquer; que não haja fotografia ou escritura. Para ficar colada numa parte pequena da existência.
Há pessoas, acima desses momentos e lembranças, que existem para serem observadas. Essas, intocáveis, guardam em si quase todos os mistérios da vida, e não há graça se forem eles todos descobertos de uma única vez.
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