sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A vida brinca de amor numa crise epilética

O último suspiro fugiu às rédeas  Duas constelações desencontraram-se. Fora traçado, há um século e meio, o destino do mais estupefato e avassalador, indizível e insuportável, amor. Nada cabe ao peito que comporta algum sentimento tão involuntário quanto esse; é sentença de morte doída, é suicídio, entregar-se.
Destruíram-se, arrancaram todas as estribeiras! O único que sobra é o sufoco de uma alma, o afogamento por falta de força nos braços para nadar até à margem ou de oxigênio nos instantes. A crise epilética. O corpo sem controle, deixando escapar junto a espuma da boca, os sonhos.
O amor é um mar nervoso. Os corpos comportam o descontrole e abusam do salgado sacrifício de cada dia: respirar. Tudo além disso é apenas vida e é justamente o que não adentra. A misericórdia da vida cujos olhos sangram, esvai-se a cada instante que foge, imperceptível, silencioso. As mãos esculpem a dor como sempre fizeram e a poesia que não sai é a dor que não pinica, mas ainda vive e reluz, como de costume.
O que seria das letras se ninguém as tivesse inventado? Flutuariam pelo ar, deslizariam pelo infinito, também imperceptíveis e talvez insonoras. As cartas também existiriam, mas, intactas e limpíssimas para nada serviriam. Quem ousaria penetrar excessos de insanidade (que é todo o fruto da mente) no ingênuo, límpido e branco papel? Os olhos morreriam sem saber as verdades, que tantas vezes foram abusos e outras tantas, hipérbole, para serem pronunciadas. O grito, o distúrbio, o turbilhão de sentimentos e sensações que guarda uma única letra ou toda uma caligrafia, quem decifraria? Os segredos ocultos, descobertos seriam, pois tudo soaria mais perverso, seguindo o barítono, e tantas vezes complexo, tom da voz.
O sufoco pode te dar brechas para que sugue o oxigênio e possa agonizar. Não há misericórdia quando a vida não te penetra e arranca um gozo verdadeiro. É puro capricho, o objetivo nunca foi que você chegasse ao orgasmo.

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