domingo, 17 de fevereiro de 2013

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A minha incapacidade de amar trouxe de volta o medo. Das banalidades tantas, me trouxe o medo da vida que ataca até no silêncio, no manso cair de folhas secas... A incapacidade de amar é até mesmo a morte corroendo os órgãos, a incerteza engeando a testa. O seco, puro, que atravessa o peito que não sente dor, é uma parte da morte invadindo o corpo e te obrigando a viver. Nem o amor é pior que a fome. E ela corrói.
Deixa ir pelos cantos e dilacera qualquer forma de pensamento. A fome é o pior de todos os males; rói os ossos, esmaga o cérebro, embaça os sentidos e embaraça tudo. O amor é o complemento e a falta dele é excepcional sentença de vida.
Amor é feto abortado. Sem oxigênio, sem capacidade de respirar. Amor é o parente distante que você já não lembra da cara, mesmo assim se desmancha em pranto no enterro. Amor é propaganda! É a poesia bem escrita, a música bonita, o perfume bom. Amor são as garrafas vazias de vodca que te trazem um vazio inexplicável, que te consome enquanto o efeito do álcool não passa.
Amor são as mentiras contadas na TV.
A audiência frustrada.
O amor não é nem essas palavras chutadas para fora por fome. Nem uma palavra sacia a fome.
Amor é capricho. Complemento.
De todas as banalidades, é o medo de viver. A utopia que lhe parece necessidade, ou até obsessão.
A minha incapacidade de amar é uma flecha retirada e recolocada milhares de vezes em muitas partes de meu corpo, é a mesma mentira que cuspo, a banalidade inafetável e que dilacera as verdades esquecidas. Amor é saudade exagerada, a que se grita por não ter o que dizer. Grita por necessidade vocal.
Amor não é essa metáfora ridícula, gasta e inviolável
Amor não é
Amor apenas consome a lucidez por falta do quê.
O fim é uma interrogação.

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