sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O dia em que Júpiter piscou para mim

A vida passa pelos meus olhos, escorre pelas minhas mãos e se estende na areia úmida. Finaliza com uma sátira imensa do reflexo sôfrego de meus olhos distantes com minhas mãos já úmidas e ásperas que absorvem todo o sal da água, numa esperança vã de acolher ao menos alguns milímetros de vida. O sol se põe todo dia às seis, e mesmo quando há a diferença estúpida entre um lado e outro do país, ele continua a se pôr no mesmo instante, sem atrasos bobos, e a gozar do luar que vem querendo tomar espaço e transformando, como mágica, o dia em noite.
Júpiter estava ali, eu vi! Era apenas mais uma enorme estrela com proximidade absurda da lua, mas tinha um brilho capaz de cegar. Sim, era ele que me causava arrepio, que me passava, como se houvesse alguma via Bluetooth ou rede Wi-fi, o seu suor gelado e a dúvida predominante, que percorre ainda assim a maioria das cabeças humanas: estão lá mais um punhado de amiguinhos desconhecidos? Quem dera descobrir o número do smartphone de algum deles e enviar uma SMS de paz, clamando por uma proximidade que muitos julgariam absurda. Imagina que louco descobrir suas crenças e faces e distúrbios; imagina que absurdo eles não terem mais de dois olhos, duas pernas ou dois braços! Imagine que estúpido eles não serem multicoloridos?!
Júpiter estava ali sim, eu o vi, com estes olhos que a terra há de comer, dando piscadelas luminosas para mim, convidando-me a passear por suas extremidades desconhecidas e compartilhar do calor humano, qualidade especial dos terrestres. Cada noite é um novo infinito com fim causado pela luz do sol. Ah! Esse calor me é ódio profundo, pois, além de derreter-me a pele e os sonhos, manda embora o luar incandescente e ninador de alegrias.
A luz do sol expulsou minhas esperanças de novas amizades jupiterianas. Júpiter não apareceu essa noite, mas ele esteve ali e essa lembrança, a lembrança da vaga e distante existência, ainda me habita com uma única vontade e uma certeza: ele está lá e eu devia ter arrebentado minhas cordas vocais, num pedido (mesmo vão), para que eu pudesse manter contato e, quem sabe, adicioná-los no facebook ou qualquer outra rede social.
(as vozes ecoam: lunática! louca! desvairada!)

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